segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A dor que ninguém entende

Ninguém sabe o que é sentir esse vazio aqui dentro.

Estava de banho tomado esperando o Lucas, ele iria jantar na sua casa e depois vir para cá. Me ligou às 8h pedindo se eu queria dormir na sua casa ao invés de ele vir aqui, respondi que não. Então ele pediu se eu iria ficar brava caso ele ficasse em casa hoje, pois não dormia em casa há uma semana. Claro que respondi que não ficaria.

E em um segundo estou pensando como pode o Lucas ser tão horrível a ponto de me deixar sozinha. Começo a chorar, mas baixinho, não quero que ele sinta minha vulnerabilidade. Logo agora que estou tão frágil, precisando de apoio, atenção.

Logo depois tento me achar horrível, como posso pensar assim do homem que sempre fica ao meu lado mesmo com tantas crises e cenas? Parece que vou ficar louca, deveria estar morta. O vazio que sinto é tão grande que parece que vou me perder dentro dele.

Sento para tomar chimarrão com os meus pais. Choro. Tento esconder. Meu pai pergunta o que tenho: NADA! Digo quase que prontamente.

No telefone, digo para o Lucas ” não adianta de nada tu ficar em casa se tu passar o tempo todo no telefone comigo “. Ele diz ” sabia que tu tinha ficado brava! ” ” não estou brava, tô falando a verdade!” e desligo com um “tchau!” antes que ele termine de falar. Espero ele ligar novamente, não liga.

Sua família deve estar fazendo minha caveira (como se precisasse).

Sonhos x Pesadelos

Sonhos…sempre me mostrando meus maiores medos…

Essa noite lembrei de dois…no primeiro, estava caminhando com a Lua (minha cachorrinha), ela sem a guia (jamais faço isso). Estávamos voltando para a minha casa quando ela se largou a correr atrás de uma cobra venenosa e a cobra a cada investida de Lua lhe dava uma picada, até que a cachorrinha “murchou” (isso mesmo) e saí correndo com ela no colo até o veterinário.

O outro não me recordo muito bem…sei que eu estava com um cara mais velho, da idade do meu pai mais ou menos, nós entramos na casa de um homem e o assassinamos. Eu, na verdade. Antes disso eu estava em um lugar aberto onde uma menina ameaçava se jogar do telhado. A amiga dela tentou ajudar e acabou caindo junto. No sonho eu conhecia as duas, mas agora não consigo lembrar quem eram.

Voltando pro cara que matamos, eu estava apavorada porque a polícia estava por perto devido ao suicídio da garota. Então eu fugi com o homem de carro, só pensava em falar com o Roger e me livrar dessa. A polícia nos parou em uma blitz, fingimos estar na boa, mas quando o homem se distraiu eu pedi para ir ao banheiro e um policial veio junto, então comecei a chorar e disse que precisava de ajuda, que aquele homem ia me matar, enfim, contei uma história me fazendo de coitadinha. No final do sonho meus pais chegaram na delegacia e armamos uma mesa para o jantar.
Eu sei. Não faz sentido. Muitas coisas não estão fazendo sentido hoje.

Passei o dia procurando algum especialista pro meu transtorno aqui na cidade e arredores e não encontrei. Poxa, eu preciso acreditar na pessoa para quem vou contar minha vida “face to face”. Não é qualquer psicólogo do CAPS que vai conseguir me ajudar.

Minha mãe e meu irmão voltaram da praia. Não sei o que senti. Não sei se estou feliz ou preocupada. Fiquei chateada com a mamãe por ela ter voltado logo agora que os amigos do Pedro estavam lá. Achei injusto. Mas não falei. A última vez que falei algo para mamãe ela foi reclamar chorando para o meu pai, não queria outra cena.

O Início

E é como se eu acordasse e o mundo inteiro estivesse se desfazendo.

Não consigo me recordar muito bem do que aconteceu na noite passada. Mas lembro do rosto da minha sogra me pedindo para parar. É o segundo ataque de fúria violenta nesse ano. Não, não era culpa do trabalho estressante na financeira, afinal, o larguei faz mais de um mês.
Eu passei o dia inteiro pensando “vou me controlar, não vou fazer uma cena”, e de quê adiantou? Parece que eu previa o estrago. Fomos eu e o Lucas para a festa de 30 anos da irmã dele. Eu estava muito bonita por sinal, também se estivesse feia após uma lipo e próteses de silicone, o que seria de mim, certo?

Logo no início me irrito com o comentário da Renata: “tu queria ir tomar café na padaria com teu namorado e o meu me levou, tu queria o colar e o Lucas comprou pra mim!” e virou as costas como que dizendo: “eu tenho tudo que você queria na vida!”
Me virei para o Lucas e falei: “eu não queria aquele colar, só disse que achei bonito!” e ele prontamente: ” desculpa, Tê, eu não devia ter falado nada pra ela!”. Felizmente, parou por aí.

A festa estava linda…luzes, show ao vivo, gente bonita, bebidas…e comecei a tomar uma cervejinha sociavelmente…mais tarde o Lucas disse que ia tomar tequila e eu disse pra ele esperar um pouco que eu tomaria junto, fui até o banheiro, estava ocupado, voltei e SURPRESA: o Lucas estava no bar! Ódio! E aquela piranha da Melissa do lado dele, vi quando ela se levantou e caminhou até o bar…pedi uma Tequila para mim também! Bebemos.

Pouca coisa restou na minha memória desde então, o Lucas me contou que tomei mais duas doses de Tequila. Provavelmente estava fazendo fiasco e ele me pediu gentilmente para parar quando começou a “possessão”! Aquela garota simpática que conversava até com quem não gostava muito virou o capeta! Não lembro de nada. Do que me contaram sei que bati no Lucas, estou com os dedos roxos até…ele tentou me segurar no carro e mal consegue pisar de dor nos joelhos, eu me debatia em cima do capô…antes disso me contaram que falei coisas horríveis para a minha sogra, me lembro vagamente da cara dela, apavorada, me pedindo por favor para parar…o Lucas disse que chamei ele de fraco, frouxo, e não queria ir dormir alegando que conhecia bem o tipinho dele, que ele queria que eu dormisse pra ele me estuprar…

Acordei no domingo e quis instantâneamente estar morta! O quê eu fiz? Olho pro lado da cama e vejo um balde com vômito, o Lucas dorme com o colchão encostado na porta (provavelmente para mim não fugir), tento lembrar o que havia acontecido. Não consigo.

Trantorno de Personalidade Borderline

Borderline é um transtorno de personalidade que traz sérias conseqüências para a pessoa, seus familiares e seus amigos próximos. O termo "fronteiriço" se refere ao limite entre um estado normal e um quase psicótico, assim como às instabilidades de humor.

Não é muito freqüente. Nos USA se considera 2% da população, (mas cuidado, geralmente as estatísticas lá são exageradas). Muito mais freqüente em mulheres do que em homens (por isso a página é escrita no feminino).

1) Sintomas (claro que nem todas as Borderline tem todos estes sintomas):

  • Medo de abandono: uma necessidade constante, agoniante de nunca se sentirem sozinhas, rejeitadas e sem apoio.
  • Dificuldade de administrar emoções
  • Impulsividade.
  • Instabilidade de humor. As oscilações de humor do DAB ou TAB - Distúrbio ou Transtorno Afetivo Bipolar duram semanas ou meses, mas as Borderline têm oscilações de minutos, horas, dias. Essas oscilações de humor incluem depressões, ataques de ansiedade, irritabilidade, ciúme patológico, hetero- e auto-agressividade. Uma paciente marca a consulta informando que está super deprimida, querendo morrer. No dia seguinte chega à consulta bem humorada, bem vestida, maquiada, vaidosa.
  • Comportamento auto-destrutivo (se machucar, se cortar, se queimar). As portadoras de Borderline dizem que se machucam para satisfazer uma necessidade irresistível de sentir dor. Ou porque a dor no corpo "é melhor que a dor na alma".
  • Tentativas de suicídio, mais freqüentemente as de impulso do que as planejadas.
  • Mudanças de planos profissionais, de círculos de amizade.
  • Problemas de auto-estima. Borderlines se sentem desvalorizadas, incompreendidas, vazias. Não tem uma visão muito objetiva de si mesmos.
  • Muito impulsivas: idealizam pessoas recém conhecidas, se apaixonam e desapaixonam de maneira fulminante.
  • Desenvolvem admiração e desencanto por alguém muito rapidamente. Criam situações idealizadas sem que o parceiro objeto do afeto muitas vezes nem tenha idéia de que o relacionamento era tão profundo assim...
  • Alta sensibilidade a qualquer sensação de rejeição. Pequenas rejeições provocam grandes tempestades emocionais. Uma pequena viagem de negócios do namorado ou marido pode desencadear uma tempestade emocional completamente desproporcional (acusações de rejeição, de abandono, de não se preocupar com as necessidades dela, de egoísmo, traição, etc.).
  • A mistura de idealização por alguém e a extrema sensibilidade às pequenas rejeições que fazem parte de qualquer relacionamento são a receita ideal para relacionamentos conturbados e instáveis, para rompimentos e estabelecimento imediato de novos relacionamentos com as mesmas idealizações.
  • Menos freqüente: episódios psicóticos (se sentirem observadas, perseguidas, assediadas, comentadas).

2) Risco aumentado para:

  • Compras Compulsivas.
  • Sexo de risco.
  • Comer Compulsivo, Bulimia, Anorexia.
  • Depressão.
  • Distúrbios de Ansiedade.
  • Abuso de substâncias.
  • Transtorno Afetivo Bipolar.
  • Outros Transtornos de Personalidade.
  • Violência (não só sexual), abusos e abandono, por causa da impulsividade e da falta de crítica para escolher novos parceiros.

3) A causa provável é uma combinação de:

  • Vivências traumáticas (reais ou imaginadas) na infância, por exemplo abuso psicológico, sexual, negligência, terror psicológico ou físico, separação dos pais, orfandade.
  • Vulnerabilidade individual.
  • Stress ambiental que desencadeia o aparecimento do comportamento Borderline.

Cuidado com conclusões precipitadas do tipo "você foi abusada" ou "você foi aterrorizada".

4) Evolução:

  • Geralmente começa a se manifestar no final da adolescência e início da vida adulta.
  • Com o passar dos anos existe uma diminuição do número de internações hospitalares e de tentativas de suicídio.
  • Parece piada de mau gosto, mas é uma realidade estatística: a cada tentativa de suicídio que a Borderline sobrevive, diminui a chance de uma nova tentativa.

5) Fatores de bom prognóstico:

  • Bons relacionamentos familiares, sociais, afetivos, profissionais.
  • Participação em atividades comunitárias: igrejas, clubes, associações culturais, artísticas, etc.
  • Baixa ou ausente freqüência de auto-agressão.
  • Baixa ou ausente freqüência de tentativas de suicídio.
  • Ser casada.
  • Ter filhos.
  • Não ser promíscua.

6) Tratamento.

A integração de tratamentos medicamentosos mais psicoterápico trouxe grandes progressos no tratamento do Transtorno Borderline.

  • Medicação:

O tratamento medicamentoso inclui Estabilizadores de Humor (mesmo que não se trate de DAB) pois eles ajudam a conter a impulsividade e as oscilações de humor.
Antidepressivos e Tranqüilizantes não tem a mesma eficácia que teriam em casos de depressões ou ansiedades "puras" mas certamente tem sua utilidade em Borderline.


Embora a medicação seja muito importante, ela é ator coadjuvante. O ator principal no tratamento é a Psicoterapia.

  • Psicoterapia:

Não é uma terapia fácil. O que acontece "na vida real" acontece dentro do consultório: instabilidade, alternância de amor e ódio, idealização e desapontamento com o terapeuta, sedução, impulsividade, etc.

Geralmente no início do tratamento a Psicoterapia é mais Analítica, para que a paciente reconheça o problema, suas causas e as conseqüências na sua vida.

Mais tarde, quando as causas e conseqüências estiverem bem entendidas pela paciente, a Psicoterapia Cognitivo Comportamental (TCC) é mais útil, pois ela ensina a paciente a ter comportamentos alternativos mais saudáveis.

Isso quer dizer o seguinte: o tratamento exige paciência, persistência, disciplina e muito boa vontade.

Pacientes gratos hoje podem se mostrar ingratos amanhã.

Terapeutas que hoje são vistos como atenciosos e dedicados podem ser criticados e vistos como monstros amanhã.